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Tragédias desta semana evocam a falta de educação política e seus reflexos na Sociedade

A falta de educação política no Brasil é um problema estrutural que impacta diretamente a qualidade da democracia e a capacidade da população de exigir responsabilidade dos governantes. Diversos episódios recentes evidenciam como o desconhecimento sobre o funcionamento do sistema político e o papel das instituições alimenta expectativas equivocadas e perpetua ciclos de desilusão e ineficiência.

Em junho de 2025, a morte da jovem Juliana Marins, que caiu em um vulcão na Indonésia, gerou comoção nacional e uma onda de cobranças para que o governo federal custeasse o traslado do corpo para o Brasil. Muitos cidadãos, pressionados por campanhas nas redes sociais, exigiram do Itamaraty uma ação, sem perceber que a legislação brasileira proíbe o uso de recursos públicos para esse fim. Apesar da determinação legal, a situação gerou debates acalorados e até mesmo uma determinação presidencial para que o Ministério das Relações Exteriores prestasse apoio integral à família, incluindo o translado do corpo, o que levantou questionamentos sobre a viabilidade jurídica da medida. Esse fato ilustra como a falta de conhecimento sobre as atribuições e limites do governo federal pode levar a cobranças injustas e desinformadas, além de confundir a atuação do Estado.

Outro exemplo notório é a sucessão de tragédias ambientais no Rio Grande do Sul. Em 2024, o governo federal destinou mais de cem bilhões de reais para a reconstrução do estado após enchentes históricas que afetaram quase quinhentos municípios. No entanto, um ano depois, novas enchentes voltaram a castigar a região, evidenciando a falta de ações efetivas de prevenção e mitigação pelos governos estaduais e municipais. Relatórios indicam que, apesar dos recursos enviados, pouco foi feito para mapear áreas de risco, implementar sistemas de alerta ou impedir a reconstrução de casas em locais vulneráveis, responsabilidades que cabem principalmente aos municípios e ao governo estadual. Mesmo assim, muitos dos governantes envolvidos foram reeleitos, demonstrando uma desconexão entre a avaliação popular e a eficácia da gestão pública.

O círculo vicioso da desinformação política é alimentado pela ausência de educação cívica. Muitos eleitores brasileiros não receberam formação política adequada, não entendem como funciona o sistema político e desejam mudanças, mas não sabem como promovê-las. Esse desconhecimento gera desinteresse, desilusão e, paradoxalmente, perpetua a manutenção de práticas ineficientes e a reeleição de gestores que pouco fizeram para evitar tragédias repetidas. O sentimento de vergonha em relação à política é especialmente forte entre os jovens, muitos dos quais declararam sentir vergonha do sistema político brasileiro. Esse cenário é agravado pelo fato de que boa parte dos jovens brasileiros não estuda nem trabalha, o que dificulta ainda mais o acesso à informação e ao engajamento cívico.

A falta de educação política no Brasil tem consequências práticas e profundas: desde cobranças equivocadas ao governo federal, como no caso do translado do corpo da jovem no vulcão, até a perpetuação de ciclos de tragédias e ineficiência, como nas enchentes do Sul. Sem um entendimento claro das atribuições de cada esfera de governo e dos mecanismos de controle e responsabilização, a população fica à mercê de promessas vazias e da repetição de erros. A solução passa, necessariamente, por investir em educação política desde a base, para que os cidadãos possam exercer seu papel democrático de forma consciente e responsável.