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Roberta Miranda lembra primeira paixão por mulher e promessa de esconder homossexualidade

Para Roberta Miranda foi difícil revisitar algumas passagens da vida para contar na autobiografia, “Um lugar todinho meu”, que acaba de lançar. Ler o livro pronto foi igualmente impactante. Um dos pontos sensíveis é a relação familiar e a descoberta da homossexualidade. A cantora, de 68 anos, chegou a prometer para a mãe, quando estava morrendo, de que jamais falaria sobre o assunto.

“A rejeição de de minha mãe, porém, ficou marcada com muita força em mim. Tanto que prometi para ela, no seu leito de morte, que nunca revelaria minha sexualidade. Naquela época, tudo era muito escondido, carreiras eram destruídas por conta de escândalos sexuais. Sim, porque ser gay era um escândalo, e, se hoje ainda somos o país que mais mata pessoas LGBTQIA+, há 40 anos ainda era bem mais perigoso. Fora a vergonha que gerava nas famílias católicas e na sociedade em geral. Sofri muito e precisei de anos e anos de análise e apoio de pessoas próximas para entender que podia, sim, falar disso sem trair a promessa feita a minha mãe. Os tempos mudaram e, se quero contar minha verdade neste livro, não posso esconder uma parte importante de quem sou. E tenho certeza de que minha mãe, lá de cima, está abençoando minha decisão de dividir antigos segredos com os fãs, que tanto me apoiam, e merecem me conhecer por inteiro”, escreveu Roberta.

A reflexão surgiu após a artista se relembrar da primeira paixão por uma mulher. Foi uma amiga, Vanda, com quem desenvolveu algo platônico. Na época, a sertaneja, ainda adolescente, até tinha um namorado, conhecido da família, mas que não podia frequentar a casa dela. Já a amiga, dormia por lá com frequência. Como a se a confusão de sentimentos já não fosse o suficiente, Roberta percebeu que o próprio pai também estava interessado na mesma mulher que ela.

“Na mesma cama que eu, inclusive, mas sem sexo, só um carinho bem puro. Mesmo assim, me vi apaixonada por ela, mesmo sem saber como lidar com isso. E, como desgraça pouca é bobagem, percebi que meu pai também estava de olho nela. Essa era a época em que ele me batia, eu fugia, ele se arrependia e eu voltava. Logo eu estava na rua, e tempos depois a ida para Campo Grande funcionou na minha cabeça como um distanciamento para que ele ficasse à vontade para se relacionar com ela. Esse era o tanto que eu o amava, mas também mostra a falta de noção que eu, sendo vítima como tantas outras de familiares abusivos, tinha do absurdo que era um adulto ter interesse em uma menina, da idade da filha dele. Anos depois, perguntei a Vanda se ela tinha tido algo com meu pai e ela negou”, relembrou.

Roberta chegou a se sentir confortável de confessar para a família o interesse em mulheres, mas logo foi repreendida.

“Esse amor por outra menina foi mais um motivo de crise na família. Minha mãe ficou doente e me culpou, dizendo que Deus a estava punindo por minha safadeza. Meu pai ficou ainda mais agressivo, não sei se por saber que eu gostava de menina ou se o problema era ser a mesma por quem ele estava interessado. Mesmo eu já fora de casa, era um inferno a mais na minha vida, que já estava bem turbulenta sem nada disso. Nesse aspecto a mudança para o Mato Grosso foi providencial”.

Anos depois, de volta a São Paulo, a artista ainda se sentiu na “obrigação” de explicar para a família que não era homossexual e tudo não tinha passado de uma fase. Chamou um amigo para ajudá-la, acabou engravidando, mas sofreu um aborto.

“Quando voltei para São Paulo, (…) conversei com minha mãe, com o firme propósito de negar que eu fosse homossexual, e convencê-la de tudo não tinha passado de uma paixão platônica, já superada. Ela não quis saber: disse que eu envergonhava a família e que isso era nojento. A partir daí, toda a família, com exceção do meu irmão José, ficou em cima de mim, me tratando ainda mais duramente. A pressão foi tanta que não aguentei e resolvi propor a um amigo que a gente transasse, com a ilusão de que com isso acalmaria os ânimos dos Miranda. Ele era amigo mesmo, sem segundas intenções, então tomamos um porre (sim, eu que odeio bebida precisei tomar coragem) para encaramos a tarefa. Três meses depois, me descubro grávida novamente. E, mais uma vez, minha mãe se enfureceu, preocupada com a falta total de estrutura para criar uma criança. Tive um aborto espontâneo”.

Mesmo falando tanto de amor nas canções, a cantora fez no livro uma reflexão sobre a própria vida.

“Não falo muito de amor fora das minhas letras, sou mesmo discreta. Fui terrível, namorei muito e me apaixonei várias vezes. Mas não fui muito feliz nos relacionamentos. Fui mais amada do que amei”.

Fonte: g1