Economia

Porto do Açu apresenta potencial de transição energética na COP27

O Porto do Açu, complexo portuário-industrial em São João da Barra, no Norte do estado do Rio, apresentou na COP27 suas iniciativas para a produção de energia limpa, em particular o enorme potencial eólico. O megaempreendimento foi assunto no pavilhão oficial do Ministério do Meio Ambiente, cujo foco é promover o Brasil como um expoente da energia sustentável — algo que especialistas caracterizam também como uma tentativa de se esquivar de críticas pelo aumento maciço do desmatamento.

Quem representou o Porto do Açu foi seu diretor executivo, José Firmo, que chamou atenção para a boa posição geográfica para a produção de energia eólica offshore (ou seja, no mar): a área entre o Norte do estado do Rio e o Sul do Espírito Santo é propícia para iniciativas do tipo. A capacidade é similar a de 2,4 usinas de Itaipu.

— A eólica offshore é uma coincidência, o ponto ideal para a energia eólica está a 20 km do Porto do Açu, e hoje já há 14 pedidos no Ibama para licenciamento — disse Firmo, que participou de uma mesa com Elbia Ganoum, da Abeolica; Joaquim Rolim, coordenador de energia da Federação de Indústrias do Estado do Ceará; e Henrique Horn Ilha, diretor de meio ambiente dos Portos do Rio Grande do Sul.

O potencial, afirmou o diretor, é enorme: a conexão com grid, disse ele, já está estabelecida, criando a oportunidade de injetar energia exatamente onde virá a demanda futura. Desta forma, será possível fornecer gigawatts de energia diretamente na rede sem a necessidade de construir novas infraestruturas.

A maior novidade, afirmou Firmo, é o biogás e a biomassa, após estudos da Embrapa concluírem que há a possibilidade de reflorestar 300 mil hectares na região. Uma planta de hidrogênio verde na região, disse ele, parece ser quase “automática”:

— Para nós, entretanto, o fundamental é não construir plantas de hidrogênio apenas para exportar elétrons. O Brasil tem uma oportunidade extraordinária de industrialização através da transição — afirmou ele. — A partir do hidrogênio, podemos descarbonizar a indústria do aço e, consequentemente, exportar aço de baixo carbono ou, em um horizonte maior, de zero carbono.

Em setembro, foi firmado um acordo com a Neoenergia para o desenvolvimento de estudos sobre a produção do combustível. Em maio, o porto fechou um acordo com a Shell Brasil para a construção de uma planta-piloto de hidrogênio verde que, com conclusão prevista para 2025, terá capacidade de 10 MW.

O hidrogênio verde é um combustível zero carbono sempre que produzido a partir do uso de energia de fonte renovável. No Açu, a operação terá início conectada à rede nacional de energia. Para garantir a fonte limpa, o Porto do Açu vai comprar energia certificada e que será entregue ao sistema nacional.

A produção será feita a partir da eletrólise, processo que utiliza energia para separar hidrogênio e oxigênio da água. Uma parte do hidrogênio produzido será armazenado e, depois, enviado a consumidores em potencial. O restante será usado na unidade geradora de amônia localizada no porto.

Também há oportunidade “imediata”, disse Firmo, de produzir nitrogênio e hidrogênio para que o Brasil tenha produção de fertilizantes verdes. Outro ponto em que o porto se destaca, ressaltou, é para a descarbonização na navegação mundial — setor que sozinho é responsável por cerca de 3% das emissões globais de gases-estufa.

— O Porto do Açu tem em seu desenho a possibilidade de aceitar a complexidade do futuro. O futuro pode ser de muito hidrogênio, de muita amônia, de muita descarbonização dos produtos de aço, para diferentes utilizações — afirmou ele.

Oito anos de operação
O Porto do Açu é um empreendimento relativamente novo, na ativa desde 2014. Suas obras começaram há 15 anos, uma iniciativa de Eike Batista que buscava atrair empresas de vários setores para o distrito industrial que seria instalado à sua volta. O plano era também desenvolver a região, mas não saiu conforme o planejado.

Após o império do empresário descarrilar, o porto foi vendido para a Prumo Logística. A empresa é hoje controlada pelo fundo americano EIG, em sociedade com o multibilionário fundo Mubadala, dos Emirados Árabes Unidos — o grupo árabe também é um dos donos do Porto Sudeste, na cidade fluminense de Itaguaí.

Hoje, contudo, é o segundo maior porto brasileiro em movimentação de carga, perdendo apenas para Santos — em 2021, moveu 56 milhões de toneladas de carga. São 10 terminais privados com até 21,7 metros de profundidade, e um terminal off-shore por onde passou no mês passado cerca de 40% do petróleo que o Brasil exportou. Há também um terminal para exportar minério de ferro, o terceiro maior do país.

Tem 130 mil hectares de área, com “capacidade de transformar a industrialização do estado do Rio de Janeiro”. São 44 m2 para a industrialização, com “oportunidade extraordinária para a transição energética”. O potencial é reforçado pela localização perto dos portos do Rio, Santos e de Vitória, no coração do Sudeste.

Além disso, fica perto da reserva privada de restinga Caruara, que serve como plataforma para o desenvolvimento industrial sustentável. Ou seja, dentro da estrutura do porto há a compensação ambiental junto ao desenvolvimento industrial.

— Essa reserva é o primeiro DNA do porto do ponto de vista de sustentabilidade — disse Firmo.

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