Por que o custo do azeite de oliva é recorde – e veja os melhores (e piores) preços em Campos
Os amantes do azeite já perceberam: o preço do produto nos supermercados da região – e do país – sofreram uma forte alta, e o pior é que não deve arrefecer tão cedo. O motivo é que o Brasil produz apenas 1% de seu consumo, enquanto a produção estrangeira sofre com safras ruins provocadas pelas mudanças climáticas. Uma pesquisa feita pelo Portal Goytacazes nos principais supermercados de Campos mostra uma variação de cerca de R$ 20 no mesmo produto. Veja abaixo os melhores (e piores) preços.
O mais caro é o Supermercado Super Bom. O mesmo azeite extra virgem Andorinha de 500 ml, que custa R$ 36,95, no Hortifruti está em promoção: R$ 19,79. Lá, o da marca Borges também é encontrado abaixo do “novo normal”: R$ 26,99. O mais em conta no Super Bom, também de 500ml, é o da marca O-Live, que está saindo a R$ 22,39. Ambos os estabelecimentos têm cupons de R$ 35 no iFood, mas há compras mínimas, restrição de quantidade por produtos e preços mais caros em alguns ítens do que nas lojas físicas.
Já no Carrefour não tem nenhum abaixo de R$ 30. No Laferpan Supermercado, o azeite Gallo em lata de 500ml sai a absurdos R$ 40,31. Já o Galo garrafa vermelho, extra suave, varia de R$ 38,07 a R$ 25,19, respectivamente, no Green e no Big.

Segundo levantamento da empresa de inteligência de mercado Horus, a partir do acompanhamento de mais de 40 milhões de notas fiscais por mês, o preço médio do azeite virgem nos supermercados brasileiros estava em R$ 20 em julho de 2021, subindo a R$ 25 em igual mês de 2022 e a R$ 30 este ano.
Trata-se de uma alta de 50% do preço médio do produto em dois anos, comparado a uma inflação acumulada de 15% neste período, segundo o IPCA do IBGE (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Preço deve continuar alto
E não há perspectiva de melhora nos preços do produto à frente. Com estoques globais nas mínimas históricas, projeções ruins para a próxima safra na Europa e a expectativa de avanço das mudanças climáticas, os preços altos devem ser o “novo normal”
Em agosto, o preço do azeite na região da Andaluzia, na Espanha – país responsável por mais de 40% da produção global do óleo – está em 8,20 euros (R$ 44,60) por quilo, mais do que o dobro (+116%) dos 3,80 euros por quilo de igual mês de 2022 e recorde histórico.
Na Itália, os preços do azeite estão em alta de 98% em relação ao ano passado e, na Grécia, o avanço é de 114%, segundo levantamento da empresa de inteligência de mercado e preços de commodities Mintec.
Os três países, além de Portugual, produzem juntos 66% de todo o azeite do mundo, segundo dados do Conselho Oleícola Internacional (IOC, na sigla em inglês), organização que reúne os países produtores de azeitona e azeite de oliva.
“Para explicar a alta nos preços do azeite é preciso voltar à safra passada”, diz Kyle Holland, analista de óleos vegetais da Mintec.
“Os principais países exportadores de azeite tiveram um período de crescimento [das azeitonas, os frutos das oliveiras] muito, muito seco. As árvores não tiveram umidade suficiente e muitas delas não produziram nenhum fruto”, relata Holland.
A Espanha, por exemplo, produz normalmente entre 1,3 e 1,5 milhão de toneladas métricas de azeite por ano, observa o analista – cada tonelada métrica equivale a 1.000 quilos.
Mas, na safra 2022/2023, estima-se que o país tenha produzido apenas 610 mil toneladas do óleo, segundo Holland.
Procissão pela chuva
A situação dos olivais da Espanha é tal que, em maio, o bispo Sebastián Chico Martínez, da cidade de Jaén, na Andaluzia, liderou uma procissão religiosa onde os fiéis clamaram aos céus por chuva – a província de Jaén tem mais de 60 milhões de oliveiras e produz 40% de todo o azeite espanhol.
Uma procissão pedindo chuva não acontecia na região desde 1949, segundo a imprensa local.
“Sem água, não há azeitona, e sem azeitona, a província sofre”, disse o bispo à época, segundo o jornal espanhol El País.
Com a fraca safra, os estoques de azeite na Espanha eram estimados pela Mintec em 205 mil toneladas em junho, um baixo patamar sem precedentes.
“Não estamos falando apenas do azeite de alta qualidade, mas de todo o azeite que está nas mãos dos produtores. Então há uma preocupação de que, com o passar do ano e até que comece a próxima safra [em outubro], os estoques de azeite possam chegar a zero na Espanha”, diz Holland.
Brasil só produz 1% do consumo
O Brasil é o segundo maior importador de azeite do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e à frente de Japão, Canadá, China e Austrália – os seis países e a União Europeia (um bloco de países) representam juntos quase 80% das importações globais do produto, segundo o Conselho Oleícola Internacional.
Ainda conforme o organismo internacional, o país importava antes da crise atual pouco mais de 100 mil toneladas métricas de azeite por ano, ou cerca de 100 milhões de litros.
A produção nacional de azeite deve chegar a pouco mais de 705 mil litros em 2023, segundo dados do Ibraoliva (Instituto Brasileiro de Olivicultura), entidade que reúne os produtores brasileiros de azeitonas e azeite de oliva.
Assim, apesar de crescente, a produção nacional de azeite não chega a 1% do consumo local do produto, o que torna o mercado brasileiro bastante suscetível às variações de preços globais.
Alta nos restaurantes
Num restaurante português na região central de São Paulo, o carro-chefe do cardápio é o bacalhau à lagareiro, servido com batatas, brócolis, ovo cozido, azeitonas e alho, e mergulhado em quase meio litro de azeite.
Pelas contas do proprietário Vitor Manuel Ferreira Pires, de 54 anos e nascido em Miranda do Douro, na região portuguesa de Trás-os-Montes, a casa utiliza em seus pratos cerca de 200 litros de azeite de oliva por mês.
Assim, o empresário tem sentido no dia-a-dia a alta global de preços do azeite.
“Para nós, o azeite aumentou em torno de 30% nos últimos quatro ou cinco meses, estamos pagando cerca de R$ 150 por galão de três litros, portanto quase R$ 50 o litro”, diz Pires, dono do restaurante O Mirandês.
*Com informações da BBC Brasil