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Ponte Rio-Niterói começa a testar novo sistema de pagamento automático de pedágio a partir de outubro

Quase seis meses após a estreia no país do sistema de pagamento automático de pedágio, o chamado free flow, no trecho da Rio-Santos na BR-101, o caminho está aberto para um novo ponto de cobrança eletrônica. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) anuncia que, a pedido da Ecoponte, autorizou que o modelo seja avaliado na Ponte Rio-Niterói. A intenção da concessionária é de iniciar os testes em outubro. Quanto ao projeto-piloto, iniciado em 31 de março, entre Santa Cruz (Rio) e Ubatuba (SP), a ANTT faz uma avaliação positiva. Até 31 de julho, a inadimplência chegou a 13,88%, ou de 550 mil não pagantes, abaixo de índices internacionais.

O projeto aprovado pela ANTT, informa a Ecoponte, “tem por objetivo verificar a eficiência operacional do meio de pagamento na realidade da Ponte Rio-Niterói e entender se será eficaz”. Durante os testes, que devem acontecer até 2024, os equipamentos vão ler as placas dos veículos. O resultado será comparado com o tráfego que passa na praça de pedágio. Nesse período de avaliação, nada mudará para o usuário, diz a empresa, acrescentando que “não existe previsão de eliminação da praça de pedágio”.

Quanto às rodovias fluminenses concedidas pelo estado, o Conselho Superior da Agetransp — agência que regula os transportes estaduais — determinou a criação de uma comissão para estudar a viabilidade de implementação do free flow na RJ-126 (Rio Bonito-São Pedro D’Aldeia), operada pela CCR Via Lagos, e na RJ-116 (Itaboraí-Macuco), sob a responsabilidade da Rota 116.

No free flow, não existem cabines, cancelas nem operadores. Tampouco há necessidade de reduzir a velocidade. Existem leitores de tags (etiquetas eletrônicas) e placas instalados em pórticos. No caso da tag, a cobrança é feita diretamente na fatura da operadora do usuário. Para motoristas que não possuem tag, a tarifa pode ser paga por WhatsApp, aplicativo ou site da concessionária CCR RioSP, em até 15 dias corridos. Há ainda uma rede física credenciada disponível ao longo da rodovia. Motocicletas não pagam.

Quem deixa de pagar o pedágio comete uma infração grave. Está sujeito a multa de R$ 195,22 e a perda de cinco pontos na carteira de habilitação.

Entre usuários da Rio-Santos, o free flow foi bem recebido, embora façam observações. Morador de Angra dos Reis, o corretor de imóveis Sidney Sineiro, que tem clientes no Rio, por conta do trabalho está acostumado a pegar a rodovia com frequência:

— A grande vantagem é não ter que parar em praça de pedágio. Optei pela tag, porque uso bastante. A minha única ressalva é que vejo pessoas ainda perdidas sobre como pagar depois. Nada que, com uma boa explicação, não consigam aprender.

Ao longo dos 270 kms da Rio-Santos, há pórticos em três pontos: Itaguaí (km 414), Mangaratiba (km 447) e Paraty (km 538). Para a arquiteta Gabriela de Souza Pereira, a via teve melhorias com a concessão. Ela acha, no entanto, que entre as duas primeiras áreas de cobrança a distância é muito pequena.

— Em vez de Mangaratiba, o segundo pedágio deveria ser em Angra. Também deveria haver uma tarifa diferenciada para quem trabalha num município e mora em outro. O valor do pedágio é alto para alguns deles (a partir de hoje, R$ 4,60 nos dias úteis, das 6h de segunda-feira às 18h de sexta-feira, e R$ 7,60, em finais de semana e feriados nacionais) — diz Gabriela, que mora no Recreio e usa muito a rodovia, tanto a serviço como a passeio.

Responsável pelo departamento de logística da Eletronuclear, Cláudio Aguiar da Silva é mais um usuário a elogiar as mudanças na Rio-Santos após a concessão, embora considere que ainda há muito por fazer:

— Houve uma visível melhora da sinalização e na limpeza. Com a operação tapa-buraco, não temos mais surpresas. Mas o asfalto precisa ser recapeado, e a via, duplicada. Um grande problema são os pontos cegos, onde a internet não pega — conta ele.


Números da ANTT mostram que 551.999 veículos deixaram de pagar pedágio na Rio-Santos, de 31 de março a 30 de julho (último dado disponível), o que representa uma evasão de R$ 3,1 milhões. Em lugares onde o free flow foi implantado — o sistema funciona em países como Chile, Colômbia, Equador e Estados Unidos — a inadimplência varia de 17% a 22%. Numa praça de pedágio comum, evasão é de aproximadamente 0,5%.

Na avaliação da agência, os primeiros meses da free flow revelam queda significativa no número de acidentes e melhora no fluxo de veículos na rodovia. Por e-mail, a ANTT diz ainda que o modelo, “além de ser uma solução moderna, destaca-se por sua sustentabilidade e segurança, uma vez que reduz a necessidade de frenagens em praças de pedágio, minimizando o risco de acidentes”.

O projeto-piloto do pagamento automático de pedágio da Rio-Santos terá duração de dois anos. A CCR RioSP afirma que, em média, um em cada dez usuários não tem pago o pedágio no prazo de 15 dias. Quase 70% dos pagamentos são feitos por tag. Os demais clientes costumam levar até seis dias para efetuar o autopagamento.

A concessionária informa que fez parceria com a Tim. O acordo prevê cobertura 4G na rodovia, possibilitando acesso a serviços no seu app, como os de emergências médicas e mecânicas. O projeto começa a ser implementado este ano, sendo concluído em 2025.

VLT: menos calote que na Europa

Mesmo não sendo free flow, o modelo usado no Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) carioca é de autoatendimento. O passageiro pode usar o bilhete único ou comprar e recarregar cartões em máquinas nas estações. Ao embarcar, precisa validar a passagem numa máquina dentro do veículo.

Quem usa o VLT tem demonstrado consciência. As tentativas de calote têm ficado em patamares inferiores às de cidades europeias, como Londres e Amsterdam, diz André Costa, que preside a empresa:

— Sistemas de pagamento espontâneo são inovadores. Surpreendentemente, temos indicadores de evasão no Rio bem menores do que na Europa. Aqui, oscila entre 10% e 13%. Em cidades da Europa, vai de 25% a 30%. E lá tem fiscalização como temos e multas maiores do que as nossas.

Segundo Costa, mapeamento feito pela empresa mostra que os horários de rush da manhã e da tarde, quando os veículos estão mais cheios, são aqueles em que as pessoas tentam burlar mais o pagamento.

Para coibir o calote, a empresa possui 70 fiscais distribuídos por turno. As multas previstas para quem é flagrado sem efetuar o pagamento são de R$ 170 e de R$ 255, no caso de reincidência.

Fonte: Extra