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Opinião: Morte do Papa Francisco abre disputa sobre rumos da Igreja em meio ao avanço da extrema direita global

A morte do Papa Francisco, ocorrida nesta segunda-feira, marca o fim de um dos pontificados mais emblemáticos e progressistas da história recente da Igreja Católica, justamente em um momento de ascensão da extrema direita no mundo. Sua ausência abre um cenário de incerteza: a escolha do novo papa poderá ser decisiva para o papel da Igreja diante dos desafios globais, seja como mediadora de pautas urgentes – como a crise climática, a justiça social e a perseguição a imigrantes -, seja como possível catalisadora de um endurecimento conservador, caso o sucessor siga caminho oposto ao de Francisco.

Ao longo de doze anos de pontificado, Francisco ficou conhecido por romper protocolos, abrir portas e promover dinâmicas inéditas no Vaticano. Primeiro papa jesuíta, primeiro latino-americano e o primeiro a escolher residir fora do Palácio Apostólico, Francisco imprimiu um estilo pastoral e próximo dos fiéis, enfatizando temas sociais, ambientais e de direitos humanos. Entre suas principais marcas está a defesa, em 2020, da união civil entre pessoas do mesmo sexo, quando afirmou que “as pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família” e defendeu a criação de leis que protejam esses direitos civis. Em 2023, autorizou a bênção a casais do mesmo sexo, embora mantendo a oposição ao casamento religioso entre pessoas do mesmo sexo.

O pontificado de Francisco também foi marcado por avanços na inclusão de mulheres e leigos em cargos de responsabilidade no Vaticano, pela abertura para que mulheres e leigos votassem em sínodos, pela abolição do segredo pontifício em casos de abuso sexual e pela remoção da pena de morte do Catecismo. Sua atuação política se destacou na mediação de conflitos internacionais, como a reaproximação entre Estados Unidos e Cuba, o apoio ao diálogo na Venezuela e os apelos constantes pela paz em zonas de conflito, como Ucrânia e Oriente Médio.

Apesar de ser visto como progressista, Francisco também protagonizou polêmicas, como declarações consideradas homofóbicas em reuniões internas, pelas quais pediu desculpas posteriormente, e manteve posições tradicionais em temas como o sacerdócio feminino e o aborto.

A morte de Francisco ocorre em um contexto de crise democrática global, com o avanço de partidos e lideranças de extrema direita que ameaçam direitos humanos e liberdades civis, especialmente em pautas como imigração, direitos LGBTQIAPN+ e políticas ambientais. A Igreja Católica, sob Francisco, buscou se posicionar como voz de diálogo e mediação, aproximando-se de movimentos sociais e ambientais, e promovendo a defesa dos mais vulneráveis.

A escolha do novo papa, portanto, ganha contornos de disputa não apenas interna, mas de impacto global. Um pontífice alinhado à linha progressista de Francisco pode fortalecer o papel da Igreja como mediadora de temas urgentes, enquanto um líder conservador pode servir de inspiração e legitimidade para a extrema direita em ascensão. O futuro da Igreja Católica, e seu papel diante dos desafios contemporâneos, será decidido nos próximos dias, sob os olhos atentos de um mundo em transformação.