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O império oculto do PCC: de portos e usinas ao controle do mercado financeiro e dos combustíveis

A mais recente operação da Polícia Federal contra o Primeiro Comando da Capital marcou uma mudança fundamental no combate ao crime organizado no Brasil: ao direcionar esforços para desarticular os grandes financiadores do esquema, as autoridades expuseram o verdadeiro alcance econômico da facção. O PCC foi alvo com base em sua atuação como um conglomerado empresarial, sustentado por relações com setores estratégicos e brechas legais.

O grupo controlava não apenas negócios ilícitos, mas também um terminal portuário, usinas de etanol, fazendas de cana-de-açúcar, uma empresa de logística com milhares de caminhões e uma vasta rede de postos de combustíveis. Na esfera financeira, sua atuação atingia dezenas de fundos de investimento na Faria Lima, movimentando bilhões, além de lavar dinheiro por meio de fintechs, fundos e outros instrumentos sofisticados.

Tal estrutura só foi possível por meio do conluio com autoridades e operadores de mercado, camuflando ativos atrás de empresas de fachada e fundos legítimos, enquanto a regulação e a fiscalização sofriam interferências externas e discursivas. O boato propagado pelo deputado Nicolas Ferreira sobre novas taxas do Pix dificultou o avanço de normas fiscais que permitiriam o rastreamento do dinheiro nas fintechs, enfraquecendo a capacidade de investigação e controle sobre o caminho dos recursos ilegais.

Além disso, medidas aprovadas nos últimos anos favoreciam a penetração do crime organizado no mercado oficial. A sanção da lei permitindo a venda direta de etanol das usinas aos postos, sem a intermediação das distribuidoras, criou portas abertas para grupos ocultos. A privatização da BR Distribuidora eliminou um grau de supervisão sobre boa parte do mercado de combustíveis, facilitando a lavagem de capitais e a infiltração de organizações como o PCC na economia formal.

Ao adotar esse modelo de enfrentamento, que ataca o financiamento e as engrenagens econômicas do crime e não apenas sua face militarizada nas comunidades periféricas, o poder público escancara que o combate real depende da responsabilização de atores econômicos e institucionais — e não da criminalização dos mais vulneráveis.