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O Dia da Independência à brasileira, irrelevante pela própria natureza

Os desfiles de 7 de Setembro em cidades brasileiras costumam ser grandiosos e repletos de tradição, mas há uma crescente discussão sobre sua relevância no cenário atual. A deste ano, em Brasília, foi marcada por uma positiva normalidade – que por outro lado demonstra sua irrelevância -, mas de significado importante diante das ameaças antidemocráticas de anos anteriores. Já no Brasil real, no interior, em cidades como Campos, Macaé e SJB, o público costuma ser menor do que a quantidade de gente desfilando, e é composto basicamente por familiares daqueles que lá se apresentam.

Em cidades como Campos, o desfile cívico-militar é ainda uma reunião de interesses alheios à data, como assessores políticos convocados por livre e espontânea pressão e alunos em busca de notas para passar de ano. Salvam-se as bandas de fanfarra, que encontram no 7 de Setembro uma das únicas oportunidades de apresentação pública de todo o ano.

Resta à data fazer política: a chance dos gestores do interior apresentarem seus projetos e saírem bem na foto. Já em Brasília, houve ainda as comparações direita-esquerda: de um lado, os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro acusando golpe (com trocadilho) sobre o esvaziamento do desfile; do outro, os defensores do presidente Lula dizendo que a comemoração foi puramente isso: uma comemoração. No fim, resta o Dia da Independência a brasileira como ele é: irrelevante pela própria natureza de quem, de um lado, só quer fazer política por política, e de outro quer apenas mais um feriado para fazer churrasco.

Em comparação com outros países que comemoram a independência podemos observar diferenças marcantes. Nos Estados Unidos, o Dia da Independência, celebrado em 4 de julho, é marcado por uma série de eventos significativos. As pessoas se reúnem para assistir a shows pirotécnicos e refletir sobre os valores que a nação vende ao mundo, como liberdade e independência. Além disso, é comum ver eventos culturais e históricos que promovem a conscientização e a compreensão da história do país.

No México, o Dia da Independência é comemorado com eventos culturais, desfiles, música e discursos que ressaltam a importância da unidade nacional e da luta contínua pela justiça e igualdade. E trazendo para a América Latina, na Bolívia, Colômbia e Chile há bandas de música, grupos de dança, fantasias tradicionais, comida típica, missa católica, discursos e explanações didáticas sobre as culturas dos povos originários.

No entanto, no Brasil, os desfiles de 7 de Setembro muitas vezes são percebidos como eventos exagerados, custosos e distantes da realidade da maioria da população. Enquanto algumas cidades investem recursos significativos em desfiles pomposos, outras enfrentam desafios mais urgentes, como educação precária, saúde deficiente e segurança insuficiente. Nesse contexto, a relevância dos desfiles pode e deve ser questionada.

Além disso, em um mundo cada vez mais globalizado e conectado, a celebração da independência por meio de desfiles militares pode parecer uma tradição antiquada – especialmente na América Latina, cuja história recente foi marcada por golpes militares. Por isso, muitos países optaram por comemorar a independência de maneiras mais inclusivas, promovendo a diversidade cultural e étnica, e destacando os valores democráticos que sustentam suas nações.

Os desfiles de 7 de Setembro no Brasil, embora tenham sua importância histórica, podem ser percebidos como cada vez mais distantes das preocupações e valores contemporâneos. Em um mundo em constante evolução, pode ser necessário repensar a forma como celebramos a independência, priorizando a inclusão, a educação cívica e a reflexão sobre o futuro e o passado do país e das cidades.