Mudanças climáticas fazem empresas de seguro mudarem cálculo de risco para não perder dinheiro
Com a intensificação de desastres como os incêndios florestais que devastaram a cidade havaiana de Lahaina e as tempestades que destruíram telhados do Alabama a Massachusetts na semana passada, as seguradoras deixaram de oferecer cobertura em determinadas regiões dos Estados Unidos ou reduziram os tipos de danos por cujo reparo pagarão.
A mudança foi impulsionada por uma parte do setor financeiro que quase sempre passa despercebida, o segmento de resseguros, que oferece seguro às seguradoras.
As empresas do segmento prometem entrar com dinheiro —geralmente grandes quantias— quando algo como um furacão, incêndio florestal ou outro grande desastre cria danos que são caros e amplos demais para que as seguradoras cubram sozinhas. No início do ano, quase todas elas aumentaram os preços.
Nas semanas que antecederam o dia 1º de janeiro, a data em que cerca de metade das apólices de resseguro são renovadas para o ano, as empresas de resseguros notificaram às seguradoras dos Estados Unidos e do Canadá —de grandes operadoras nacionais, como a State Farm e a Farmers, até as empresas menores e mais especializadas— que seus preços subiriam. Isso levou a uma série de negociações tensas entre essas seguradoras e companhias como a Swiss Re, a Odyssey Re e outras empresas de resseguros, muitas das quais com sede fora dos Estados Unidos.
As empresas de resseguros perderam dinheiro nos últimos quatro ou cinco anos ao competirem para oferecer as melhores condições aos clientes, disse Franklin Nutter, presidente da Reinsurance Association of America, a associação setorial dessas empresas. Mas, no final do ano passado, decidiram que competir dessa forma não valia o custo.
“A comunidade de resseguros como um todo decidiu essencialmente que precisávamos de uma redefinição”, disse Sean Kent, corretor de seguros da FirstService Financial, que ajuda grandes empreendimentos residenciais a encontrar apólices de seguro imobiliário. “Foi a data de renovação de resseguro mais volátil das últimas décadas.”
O aumento dos preços das empresas de resseguros acelerou as mudanças em um setor que luta contra um novo senso de incerteza. O mundo está se aquecendo, as tempestades estão ficando mais intensas, a inflação aumentou o custo de reconstrução após um desastre e a alta global nas taxas de juros está tornando o dinheiro em si mais caro.
Desde o início do ano, seguradoras pagaram US$ 40 bilhões a clientes dos Estados Unidos, o que as coloca a caminho de mais um ano de perdas anuais recorde. Em todos os níveis, os custos de proteção contra riscos estão aumentando, e todos, dos líderes de grandes empresas até os proprietários de residências e pequenas empresas, estão sentindo o aperto.
“Se você é o presidente executivo ou vice-presidente financeiro de uma empresa de médio porte —por exemplo uma imobiliária que opera 500 residências em Minnesota—, vai falar sobre resseguro e o impacto que o resseguro tem sobre seus resultados e sua lucratividade”, disse Kent.
Os preços do resseguro aumentaram até 40% em 1º de janeiro, com relação ao ano anterior, de acordo com um relatório da Gallagher Re, uma corretora que intermedeia acordos de cobertura de resseguro. Os aumentos de preços abalaram as seguradoras, que, consequentemente, mudaram suas normas quanto aos lugares e beneficiários a que oferecem cobertura.
Fonte: Folha de São Paulo