Mapa com concentração de eleitores de Lula foi utilizado em reunião sobre blitzes da PRF
Um mapa que mostra os locais onde havia concentração de votos ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi usado, segundo a Polícia Federal, na reunião em que foi discutida uma operação para dificultar o deslocamento de eleitores no segundo turno. É o que mostra a investigação da PF que levou ao cumprimento de um mandado de prisão contra o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques e de dez mandados de busca e apreensão contra dirigentes da corporação.
O documento estava no celular da delegada federal Marília de Alencar, então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, sob a gestão de Anderson Torres. Em depoimento, ela afirmou que a área técnica da pasta foi demandada por Torres para levantar a quantidade de agentes de cada corporação que poderiam ser usados no dia da votação.
“É relevante observar que, conforme o tópico anterior deste relatório, havia uma reunião agendada com o ministro para 11h. Sendo assim, como esta imagem foi capturada às 11h23, há fortes indícios de que esta fotografia tenha sido realizada para esta reunião”, explica a PF na representação pelos mandados feita ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
No arquivo periciado, há uma foto de uma folha de papel com a impressão de um painel com o título “Concentração maior ou igual a 75% – Lula”. Na página, também aparece um mapa do Brasil e uma lista de cidades, como Crato, no Ceará, e Paulo Afonso, na Bahia. Nesses dois locais, por exemplo, Lula tinha 81% e 77% dos votos, enquanto Jair Bolsonaro (PL) tinha 13% e 18%, respectivamente.
“Na coluna “BOLSONARO”, há indicativo de um total de 1.485.294 votos, seguida pela coluna “LULA” com número total de 7.743.713. As colunas de percentuais apontam 15,37% na coluna “% BOLSONARO” e 80,15% na coluna “% LULA”. Há também uma coluna final de partidos”, ressalta a PF.
De acordo com as investigações, esse planejamento foi encaminhado ao então superintendente da PF na Bahia, Leandro Almada. Às vésperas do segundo turno, Torres viajou à Bahia para uma reunião com Almada na qual pediu que a corporação trabalhasse junto com a PRF nas operações de 30 de outubro.
Naquele dia, segundo dados do Ministério da Justiça, a corporação parou 324 ônibus em estradas do Nordeste, onde Lula obteve seus maiores índices de votação, enquanto no Centro-Oeste foram 152; no Sudeste, 79; no Norte, 76; e no Sul, 65. Segundo o atual diretor-geral da PRF, Antônio Fernando Oliveira, a atuação da polícia na ocasião foi “desproporcional” no Nordeste, com mobilização superior à empregada durante as festividades de São João, maior operação da corporação na região.
Fonte: O Globo