Fake news sobre taxação do Pix e guinada da Meta à direita ampliam riscos da desinformação
A recente onda de fake news sobre uma suposta taxação do Pix no Brasil e a polêmica decisão da Meta de relaxar o controle sobre desinformação evidenciam os crescentes riscos que as notícias falsas representam para a sociedade e a democracia.
O caso da falsa taxação do Pix
No início de janeiro, uma série de mensagens falsas começou a circular nas redes sociais alegando que o governo brasileiro passaria a cobrar impostos sobre transações via Pix acima de R$ 5 mil. A desinformação se espalhou rapidamente, gerando confusão entre os usuários do sistema de pagamentos instantâneos.
A Receita Federal precisou vir a público desmentir categoricamente os boatos. Em nota oficial, o órgão esclareceu que “não existe tributação sobre Pix, e nunca vai existir, até porque a Constituição não autoriza imposto sobre movimentação financeira”.
O episódio demonstra como notícias falsas podem se propagar velozmente nas redes sociais, causando alarmismo e desinformação em larga escala. Mais grave ainda, criminosos aproveitaram a onda de fake news para aplicar golpes, enviando boletos falsos a vítimas e alegando que seriam cobranças de uma inexistente “taxa do Pix”.
A guinada da Meta à direita
Em meio a esse cenário de proliferação de desinformação, a Meta, empresa controladora do Facebook e Instagram, anunciou mudanças controversas em suas políticas de moderação de conteúdo. Mark Zuckerberg, CEO da companhia, declarou que encerrará o programa de checagem de fatos independente e relaxará os filtros sobre temas sensíveis como imigração e gênero.
A decisão foi vista por especialistas como uma guinada à direita e um alinhamento com o discurso do presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Zuckerberg chegou a afirmar que trabalhará com Trump “para pressionar governos ao redor do mundo que estão perseguindo empresas americanas e pressionando para censurar mais”.
Riscos amplificados
A combinação entre a proliferação de fake news e o relaxamento nos mecanismos de controle por parte das grandes plataformas digitais amplifica os riscos da desinformação para a sociedade. Entre as possíveis consequências, destacam-se:
- Erosão da confiança nas instituições e na imprensa profissional
- Polarização política e radicalização de grupos extremistas
- Ameaças à saúde pública, como visto na pandemia de Covid-19
- Interferência em processos eleitorais e democráticos
- Prejuízos econômicos e danos à reputação de indivíduos e empresas
O professor Marcio Moretto, da Universidade de São Paulo, alerta que o relaxamento no controle das fake news “pode ter impacto grave nas eleições de 2026”. Já o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) classificou a decisão da Meta como um “ataque direto à proteção de direitos individuais e coletivos no ambiente digital”.
Necessidade de regulação
Diante desse cenário, cresce o debate sobre a necessidade de regular as plataformas digitais. O governo brasileiro e outros países têm buscado formas de responsabilizar as empresas de tecnologia pela disseminação de conteúdos nocivos, sem ferir a liberdade de expressão.
No entanto, a tarefa não é simples. As big techs resistem a uma regulação mais rígida, alegando defesa da liberdade de expressão. Ao mesmo tempo, há o desafio de criar mecanismos eficazes sem cair na censura ou no controle excessivo da internet.
O combate às fake news e seus efeitos nocivos exigirá um esforço conjunto de governos, empresas de tecnologia, sociedade civil e cidadãos. Somente com educação digital, checagem criteriosa de informações e um arcabouço regulatório equilibrado será possível mitigar os riscos da desinformação e preservar a saúde do debate público nas democracias contemporâneas.