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Em cartaz na região, ‘Napoleão’ convida à reflexão sobre a natureza do poder e da guerra

Em um cenário global em transformação, onde a influência cultural dos EUA diminui diante do ascenso econômico da China, Ridley Scott apresenta em “Napoleão” uma análise peculiar da moderna tecnocracia militar. Em cartaz nos cinemas de Campos e Macaé, o filme, protagonizado por Joaquin Phoenix no papel do imperador francês, mergulha na figura críptica de Napoleão Bonaparte, explorando sua liderança em massacres durante as Guerras Napoleônicas.

A abordagem de Scott destaca-se pela representação do tédio que permeia as ações de um Napoleão que, longe do triunfalismo usual, conduz seu exército de forma discreta e desinteressada. A comparação impactante com o vigoroso vilão de Phoenix em “Gladiador” ressalta a metamorfose do astro ao interpretar o imperador, agora reduzido a uma presença de cena imutável.

O filme evita didatizar a megalomania de Napoleão, preferindo preservar o essencial da romantização do relato, centrando-se no contexto geopolítico e na relação com Joséphine, interpretada com segurança por Vanessa Kirby. O enfoque nos excessos de devassidão e o flerte com a sátira marcam a singularidade desta obra no catálogo de épicos de Scott.

A sátira, entretanto, reflete uma infeliz realidade do pensamento ocidental, manifestada no impulso anti-política. Ao retratar os bastidores que conduziram à coroação de Napoleão, Scott sobe o volume da pantomima, provocando desagrado, mas Phoenix encara o desafio com galhardia. A política é relegada a uma necessidade ocasional, enquanto o verdadeiro exercício de poder se desenrola em batalhas que, paradoxalmente, parecem uma obrigatoriedade de roteiro.

Em suas duas horas e meia, “Napoleão” sustenta-se na dinâmica de atração e repulsa, explorando o deslumbramento com o triunfo da batalha e seu subsequente esvaziamento de sentido. Embora falte a faísca criativa para transcender o épico histórico, é intrigante observar Ridley Scott confrontar sua própria vocação tecnocrática, revelando uma resposta na morbidez resultante do tédio da repetição.

No elenco, Joaquin Phoenix, Vanessa Kirby e Rupert Everett entregam performances notáveis, ancorando a narrativa em uma interpretação única da história. “Napoleão” oferece uma perspectiva não convencional, provocativa e reflexiva sobre a trajetória do cineasta veterano e, por extensão, sobre a natureza do poder e da guerra na contemporaneidade.

Confira o trailer: