Cidades

Combatendo a ameaça crescente da dengue

Em 2024, espera-se que Brasil enfrente uma elevação substancial nos casos de dengue. O ano de 2023 já registrou um aumento de 57% nas infecções em comparação com o ano anterior, indicando uma tendência preocupante. Esse aumento é parcialmente atribuído à introdução de um novo genótipo do sorotipo 3 do vírus da dengue, que se originou na Ásia e agora se espalhou para as Américas, incluindo o Brasil.

Urbanização, mobilidade populacional e as condições climáticas do Brasil exacerbaram a situação. A armazenagem temporária de água pós-seca cria locais de procriação para os mosquitos Aedes aegypti. Esse fator contribui significativamente para o aumento do risco de surtos.

Como resposta, o governo brasileiro anunciou a incorporação da vacina contra a dengue Qdenga, no SUS. Esse imunizante é direcionado especificamente para o grupo de 6 a 16 anos, com planos de compra de 5,2 milhões de doses.

Trata-se de uma vacina tetravalente, de vírus vivo atenuado, que deve ser administrada em duas doses, com intervalo de três meses entre elas, independentemente de a pessoa ter tido ou não dengue previamente. É indicada para pessoas entre 4 e 60 anos. Não existem dados, até este momento, que indiquem necessidade de dose de reforço da vacina. Mas, os estudos seguem em andamento para responder essa questão.

No Brasil, como em muitas outras regiões do mundo, os quatro sorotipos do vírus da dengue circulam e são responsáveis por surtos da doença. Cada sorotipo é distinto e pode causar desde casos leves até formas mais graves da doença, como a dengue hemorrágica. É importante notar que a infecção por um sorotipo confere imunidade vitalícia para esse sorotipo específico.

A vacina demonstrou ser eficaz contra o DENV-1 (69,8%), DENV-2 (95,1%) e DENV-3 (48,9%). A eficácia contra o DENV-4 não pôde ser avaliada nesse período, devido ao insuficiente número de casos de dengue causados por esse sorotipo durante o estudo. De qualquer forma, os sorotipos circulantes no Brasil nos últimos anos são o DENV-1 e o DENV-2, para os quais a eficácia está claramente demonstrada.

A forma grave da doença, anteriormente conhecida como dengue hemorrágica, representa uma complicação séria. Ela geralmente ocorre quando uma pessoa é infectada pela segunda vez com um tipo diferente de vírus da dengue. O sistema imunológico reage de maneira exagerada ao novo tipo de vírus, o que pode levar a complicações graves.

O quadro clínico é caracterizado por início súbito de febre alta, dor atrás dos olhos, dores musculares e nas articulações, dor abdominal intensa, vômitos persistentes, sangramento das gengivas ou nariz, sangue na urina, fezes ou vômitos, dificuldade para respirar ou respiração rápida e fadiga extrema ou irritabilidade. As complicações mais graves da dengue incluem choque, hemorragias internas e falência de órgãos. Isso pode levar a uma condição chamada síndrome do choque da dengue, que é potencialmente fatal.

Não existe tratamento específico para a dengue grave. O tratamento é de suporte e visa manter a pessoa hidratada e tratar os sintomas e as falências orgânicas. Em casos graves, a hospitalização em unidade de terapia intensiva muitas vezes é necessária.

A melhor forma de prevenção é evitar a picada do mosquito Aedes aegypti. Isso inclui usar repelentes, vestir roupas que cobrem a maior parte do corpo, e eliminar os locais de reprodução dos mosquitos.

Para prevenir a dengue, são necessárias medidas sanitárias eficazes, focadas principalmente no controle do mosquito. É essencial o monitoramento dos casos para identificar surtos precocemente e direcionar medidas de controle, além de implementar sistemas de notificação obrigatória e investir em pesquisa para o desenvolvimento de novas tecnologias de controle de vetores, vacinas e tratamentos.

Fonte: O Globo