Uma reflexão sobre os Justiceiros de Copacabana e as lições não aprendidas com as milícias
Em meio às ruas movimentadas de Copacabana, uma sombra crescente ameaça a ordem pública em meio ao caos dominante, o flagelo social e a ausência dos governantes: os Justiceiros, grupos de playboys cujos superpoderes são a condição social e a cor da pele, têm ganhado notoriedade por perseguir e linchar supostos criminosos. Contudo, essa prática tem consequências alarmantes que resvalam, invariavelmente, na população negra e pobre, como ficou evidente em eventos recentes.
Na semana passada, um trágico incidente chocou a cidade quando um grupo de Justiceiros atacou erroneamente um jovem negro trabalhador, confundindo-o com um criminoso. Esses eventos ilustram como a busca por justiça nas próprias mãos pode facilmente resultar em injustiças profundas, perpetuando estereótipos e colocando vidas em risco com base em aparências.
Esse fenômeno não é isolado, encontrando paralelos perturbadores no surgimento das milícias no Rio de Janeiro. As milícias – inicialmente apresentadas como “Autodefesas Comunitárias” pelo então prefeito do Rio, Cesar Maia, e defendidas e louvadas pelo hoje senador Flávio Bolsonaro, que até hoje luta para amenizar as penas de grupos paramilitares – cresceram a ponto de controlar vastas áreas da sociedade. Até se tornarem incontroláveis, com elementos infiltrados até no Disque-Denúncia.
Em um momento de alarme adicional, um deputado estadual propôs um projeto de lei que busca legalizar a atuação dos Justiceiros, ecoando estranhamente os passos iniciais das milícias. Essa proposta levanta sérias preocupações sobre o papel do Estado na promoção da violência como meio de aplicar a lei, ignorando princípios fundamentais de um sistema jurídico justo e imparcial.
É imperativo aprender com os erros do passado e reconhecer que a justiça por meio da violência exacerbada não apenas falha em resolver problemas sistêmicos, mas também perpetua desigualdades profundas. O Rio de Janeiro já testemunhou os estragos causados pelas milícias, e permitir a legalização dos Justiceiros pode lançar o estado em um ciclo perigoso de impunidade e injustiça.
À medida que a sociedade carioca confronta esses desafios, é vital que os líderes políticos rejeitem propostas que comprometam os princípios fundamentais do Estado de Direito. A busca pela justiça deve ocorrer dentro dos limites legais, garantindo a proteção de todos os cidadãos, independentemente de sua origem étnica ou condição socioeconômica. Ou não restará mais a quem pedir socorro, como já ocorre entre a população mais humilde nos rincões da capital fluminense.