App ajuda motorista de aplicativo a aumentar lucro, e Uber processa criadores; veja como funciona

Uma ferramenta que recusa automaticamente corridas desvantajosas para motoristas de Uber e 99 levou a uma disputa na Justiça. O StopClub foi projetado para ajudar os motoristas a tomarem decisões sobre as corridas que aceitam e a melhorar sua experiência de trabalho.

Como funciona

Registro e Cadastro: Os motoristas interessados em usar o StopClub precisam se registrar e fazer o cadastro. Ele pode ser baixado nas lojas de aplicativo para dispositivos iOS e Android.

Cálculo de Ganhos: Esta função permite aos motoristas visualizar o valor que receberão por uma corrida antes de aceitá-la. Ela mostra o quanto o motorista ganhará por quilômetro rodado, permitindo que eles avaliem se a corrida é lucrativa o suficiente para aceitá-la.

Recusa Automática: Essa funcionalidade permite que os motoristas configurem um valor mínimo que desejam ganhar em uma corrida. Se a corrida oferecida pela plataforma de transporte pagar menos do que esse valor, o StopClub recusará automaticamente a corrida em nome do motorista. Isso ajuda os motoristas a evitarem corridas que não atendam às suas expectativas financeiras.

Automatização: Para usar o StopClub, os motoristas precisam baixar um arquivo (macro) no aplicativo e executá-lo por meio de um aplicativo de terceiros, como o MacroDroid. Essa automação permite que o aplicativo leia informações relevantes, como preço, distância e destino da corrida, ajudando o motorista a tomar decisões mais rapidamente.

Gravação de Vídeos: Além das funcionalidades relacionadas a corridas, o StopClub oferece a capacidade de os motoristas gravarem vídeos do interior do carro durante as corridas. Isso serve como uma medida de segurança para os motoristas, permitindo que documentem a viagem e tenham evidências em caso de problemas com passageiros.

Comunicação entre Motoristas: O aplicativo também oferece recursos de comunicação que permitem que os motoristas se conectem entre si, compartilhem informações sobre condições de trânsito, locais para descanso, postos de combustível e outras dicas relacionadas à profissão.

Localização e Indicações: O StopClub pode ajudar os motoristas a encontrar postos de combustível, oficinas mecânicas e outros pontos de interesse nas proximidades, facilitando a vida dos condutores em suas jornadas de trabalho.

Disputa judicial

No processo, a Uber aponta o aplicativo StopClub como um dos responsáveis por fazer passageiros terem mais dificuldades para solicitar viagens. A Uber afirma que seu acordo com motoristas é desrespeitado porque o StopClub acessa detalhes sobre viagens e dados de usuários. A empresa diz que “não pode tolerar a existência de ferramentas que incentivem a recusa de viagens pelos motoristas, degradando a experiência dos usuários”.

O StopClub, por sua vez, alega que não coleta dados pessoais nem interfere no funcionamento do aplicativo da Uber. A defesa é de que as suas ferramentas ajudam motoristas a controlarem seus ganhos com corridas.

Mais de 250 mil motoristas em 1.100 cidades no Brasil estão cadastrados no StopClub. A Uber afirmou que seus termos de uso proíbem ferramentas como as oferecidas pelo StopClub (veja a íntegra ao final). A acusação se concentra em dois recursos:

As funcionalidades rodam em uma macro, uma espécie de arquivo que permite automatizar ações em um sistema. Os motoristas baixam o conteúdo no app do StopClub e precisam executá-los por meio de um aplicativo de terceiros, como o MacroDroid.

Quando a Uber ou a 99 oferece uma corrida, o arquivo automatizado “lê” a tela do celular com ajuda de recursos de acessibilidade do Android.

Ele seleciona informações como preço e distância para chegar ao valor que o motorista vai ganhar por quilômetro rodado. E, então, mostra a informação com cores vibrantes em uma pequena janela sobre o aplicativo da Uber.

A ideia é que o motorista consiga decidir nos poucos segundos oferecidos pela plataforma se a corrida realmente vale a pena.

Para o desembargador Azuma Nishi, relator do caso, não há comprovação de que o uso do recurso “tem o condão de ensejar violação a direitos de propriedade industrial e/ou autoral, ou mesmo concorrência desleal”.

Por também permitir a gravar vídeos do interior do carro durante as corridas, a plataforma afirma que o recurso ajuda os motoristas a se protegerem contra possíveis acusações. Segundo o diretor-executivo do StopClub, Luiz Gustavo Neves, a empresa foi criada em 2017 após conversas com dezenas de motoristas para entender as necessidades da categoria.

“Eles falavam que se sentiam muito vulneráveis e muito inseguros no dia a dia. Não só pela violência na cidade, mas também por eventuais discussões com os passageiros, que poderiam culminar no banimento deles da plataforma”, explica.

O aplicativo também oferece meios para motoristas se comunicarem rapidamente com seus colegas de profissão e encontrarem indicações de postos de combustível, oficinas mecânicas, entre outros. O executivo afirma que os recursos “cálculo de ganhos” e “recusa automática” foram criados a pedido dos motoristas e que a insatisfação dos passageiros com recusas de corridas é anterior ao lançamento das ferramentas.

“A única coisa que a recusa automática faz é automatizar o comportamento natural que o motorista teria”, diz Neves. “A gente desenvolveu isso tudo pensando que esse dia de a Uber nos processar nunca aconteceria, porque a gente tomou muito cuidado”.

O StopClub usou seu aplicativo para promover um abaixo-assinado a favor do funcionamento de suas ferramentas. Mais de 50 mil pessoas já apoiaram a campanha.

“Eu entendo o lado do passageiro de querer pagar o mínimo possível e o lado da Uber de querer ficar com o máximo possível de comissão”, disse o diretor-executivo da empresa.

“O que eu não entendo é que, para isso tudo acontecer, o motorista tenha que ser achatado e trabalhar sem todas as informações que precisa para tomar uma decisão e não ter prejuízo numa viagem”.

Na abertura do processo, a Uber afirmou que o StopClub o acesso por terceiros a informações como distância, destino e preço das viagens é vedado em seu contrato com motoristas. A empresa também diz que usa todos os recursos disponíveis para proteger a integridade de sua plataforma.

A companhia afirma que um motorista em Aracaju chegou a recusar mais de 1.100 pedidos de viagem em apenas um dia com a ajuda de um robô no seu celular, mas não especificou qual serviço foi usado para isso.

Veja a íntegra da nota da Uber:

“A Uber vai recorrer da decisão. A empresa utiliza todos os recursos possíveis, sejam tecnológicos ou jurídicos, para proteger a integridade da plataforma e manter a experiência dos usuários que buscam viagens em níveis satisfatórios.

Nesse sentido, não é permitido o uso de sistemas ou ferramentas de automação durante o uso do aplicativo, como robôs que fazem intervenções no lugar de ações humanas. Por exemplo, decidir seguidamente, em centésimos de segundos, a recusa automática de solicitações de viagens.

Apenas como exemplo, enquanto utilizava um robô instalado no celular, um motorista de Aracaju foi responsável por recusar mais de 1.100 pedidos de viagem em um único dia. O funcionamento de robôs como esses viola os Termos Gerais de Uso da plataforma e prejudica usuários e motoristas parceiros, afetando a confiabilidade da plataforma como um todo.”

A Revista Piauí fez uma reportagem que conta em detalhes a criação do aplicativo e a guerra jurídica contra a big tech americana.

*Com informações do G1