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Opinião: moralismo eleitoral invade a educação

O moralismo estrutural que permeia a disputa pelo voto conservador voltou a dar as caras nesta semana. No Rio, cinco diretoras foram afastadas após apresentações culturais que geraram polêmica: a do cavalo taradão, como foi chamado nas redes sociais, e a do funk Rajadão. É fundamental reconhecer a importância de cuidar da formação das crianças nas escolas, mas isso não pode ser feito de maneira isolada, ignorando a realidade em que vivem.

O funk, por exemplo, é uma expressão cultural que faz parte da vida de muitos jovens no Brasil. Criminalizar essa manifestação cultural não apenas é ineficaz, como também afasta as escolas da realidade dos estudantes. Uma coisa é discutir qualidades e gostos; outra é criminalizá-las ou fingir que não existem. Educação é comunhão, debate de ideias; nunca segregação.

Os educadores têm a responsabilidade de orientar os alunos sobre os diversos aspectos da cultura, incluindo aqueles que podem ser controversos. Em vez de afastar diretoras, devemos promover o debate e a conscientização, incentivando uma abordagem equilibrada que respeite a diversidade cultural.

Além disso, é importante destacar que o moralismo estrutural na disputa pelo voto conservador pode ter implicações mais amplas na sociedade, minando a liberdade de expressão e perpetuando estigmas injustos. A educação deve ser um meio de capacitar os jovens para compreenderem e lidarem com a diversidade cultural, em vez de criminalizar aquilo que não se encaixa em determinados padrões.

Tais discursos encontram eco no mundo político, de olho no voto conservador tão em evidência no estado do Rio e no Norte Fluminense, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro teve votação expressiva, uma das maiores do país. Não se trata aqui de criminalizar também o voto conservador, mas, sim, de não alimentá-lo com discursos de ódio, segregacionistas e até criminosos – sob o risco de voltarmos a ver fake news absurdas, como o kit gay e mamadeiras fálicas, tomando o debate dos problemas reais e urgentes que afligem a nossa sociedade.

Em resumo, é crucial encontrar um equilíbrio entre cuidar das crianças nas escolas e reconhecer a importância da cultura na vida dos jovens, e de acordo com a realidade deles. A educação deve ser uma ponte para a compreensão e o respeito mútuo, não um instrumento de repressão baseado em moralismos alimentados por interesses eleitoreiros.