Política

Bolsonaro atuou para vender joias sauditas e recebeu em dinheiro vivo, aponta PF

A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (11/8) uma operação nesta contra pessoas próximas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, entre elas militares, suspeitos de participarem de um esquema de venda ilegal de presentes recebidos por Bolsonaro durante compromissos oficiais.

O dinheiro obtido com a venda, diz a PF, seria destinado a Bolsonaro. Segundo a PF, os crimes investigados nessa etapa da operação são peculato e lavagem de capitais.

A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e é um desdobramento das investigações sobre o destino de joias recebidas pelo ex-presidente enquanto estava no poder. Apesar de as investigações terem Bolsonaro como um dos alvos, a operação de hoje não teve nenhuma medida contra o ex-presidente.

Quatro pessoas foram alvo da operação: o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, que está preso; o pai dele, o general do Exército Mauro Cesar Lorena Cid; o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e tenente do Exército Osmar Crivelatti; e o advogado Frederick Wassef, que já defendeu Bolsonaro e familiares em processos judiciais.

De acordo com o relatório, o tenente-coronel Mauro Cid e Crivelatti teriam participado do grupo responsável pelo desvio, envio ao exterior e tentativa de venda dos itens.

Seu pai, o general Mauro Cesar Lorena Cid, teria recebido as joias e encaminhado os produtos a locais de venda. Lorena Cid é amigo pessoal de Bolsonaro. Os dois se formaram juntos na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Durante o governo Bolsonaro, Lorena Cid ocupou um cargo na A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).

Frederick Wassef, por sua vez, teria atuado no que a PF chamou de “operação de resgate” das joias desviadas após a publicação de reportagens sobre o caso, março de 2023.

A operação atingiu integrantes do núcleo mais próximo de Bolsonaro um mês depois de ele ter sido condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ficar inelegível por oito anos.

Mas quais são os argumentos da polícia federal que levaram à operação de hoje?

Segundo trechos do relatório da Polícia Federal enviado ao STF, há indícios de que assessores de Bolsonaro teriam usado aviões da Força Aérea Brasilia (FAB) para retirar do Brasil presentes de alto valor e joias que foram dadas ao ex-presidente durante compromissos oficiais.

A legislação brasileira determina que presentes oficiais precisam ser registrados junto ao governo para que seja feita uma análise sobre se eles devem ser incorporados ao patrimônio público ou se podem ser destinados a quem os recebeu.

“Foi criada uma estrutura para desviar os bens de alto valor presenteados por autoridades estrangeiras ao ex-Presidente da República, para serem posteriormente evadidos do Brasil, por meio de aeronaves da Força Aérea brasileira e vendidos nos Estados Unidos”, diz um trecho do relatório da PF.

Ainda de acordo com a PF, a prática teria sido ilícita.

“(Esses) fatos que, além de ilícitos criminais, demonstram total desprezo pelo patrimônio histórico brasileiro e desrespeito ao Estado estrangeiro, cujos presentes ofertados, em cerimônias diplomáticas, podem retratam aspectos de suas culturas e representa um gesto de cortesia e hospitalidade ao Brasil, representado naquele momento pelo Presidente da República”, disse.

As mensagens mostram que o médico de Bolsonaro, Marcelo Câmara, alertou Mauro Cid sobre a necessidade de comunicar à uma comissão do governo a intenção de vender os itens.

“‘Só dá pena pq estamos falando de 120 mil dólares / Hahaaahaahah”, teria respondido Mauro Cid.

Segundo a PF, mensagens de texto trocadas entre os membros do grupo indicam que eles tinham ciência de que a venda dos itens era ilegal.

“As mensagens evidenciam que, além da existência de um esquema de peculato para desviar ao acervo privado do ex-Presidente da República, Jair Bolsonaro, os presentes de alto valor recebidos de autoridades estrangeiras, para posterior venda e enriquecimento ilícito do ex-Presidente, Marcelo Câmara e Mauro Cid tinham plena ciência das restrições legais da venda dos bens no exterior”, diz um trecho do relatório.

Fonte: BBC News