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Confusão e cantoria: multidão na saída de MC Poze da prisão tinha até crianças de colo

Uma multidão, incluindo mulheres e crianças de colo, se aglomerou na tarde de terça-feira (03) em frente ao portal do Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio. Alguns usavam camisas ou seguravam cartazes com a frase “MC não é bandido”. Outros cantarolavam funks que saíam de uma caixa de som, instalada em frente a um restaurante. Todos esperavam a saída de Marlon Brendon Coelho Couto e Silva, o MC Poze do Rodo. Preso no último dia 29 pela Polícia Civil, ele conseguiu um habeas corpus na noite de segunda-feira e deixou ontem o presídio, sendo recebido pela esposa, a influenciadora Viviane Noronha.

Horas antes, ela havia sido um dos alvos de uma operação da Polícia Civil contra o núcleo financeiro do Comando Vermelho (CV). Segundo as investigações, ela teria recebido valores milionários por meio de empresas de fachada e produtoras de bailes funk que atuavam no interior do Complexo do Alemão. As produtoras de bailes e empresas realizavam depósitos em contas de terceiros, como a da influenciadora. No total, a suspeita é que o esquema movimentou mais de R$ 250 milhões. Poze não foi alvo da operação.

Confusão

A saída do funkeiro do presídio Bangu 3 acabou em confusão quando Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, o cantor Oruam, filho do traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, subiu com mais dois homens no teto de dois ônibus que passavam pela Estrada Guandu do Sena, que corta a entrada do Complexo penitenciário.

A Polícia Militar, que havia reforçado o patrulhamento na porta da unidade penal com mais de 50 homens, interferiu disparando tiros de balas de borracha, detonando bombas de gás lacrimogêneo e borrifando spray de pimenta para dispersar a multidão. A atitude causou correria, mas ninguém ficou ferido gravemente. A PM afirmou ter agido após o início de atos de vandalismo e alegou ter agido com os meios necessários para dispersar os manifestantes.

‘Formou um circo’
A espetacularização em torno da prisão de Poze do Rodo divide especialistas em segurança pública. A aglomeração em frente ao Complexo de Gericinó “lembrou a passagem de um circo”, segundo o coronel da Polícia Militar de São Paulo José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública:

— A polícia precisa ter mais cuidado ao lidar com certas celebridades. É perceptível, pela decisão do juiz que expediu o alvará de soltura de Poze, que faltou uma investigação mais profunda. Virou uma prisão baseada em um fator social.

Já Ronaldo Oliveira, delegado aposentado e estudioso do tema, vê como positiva a investigação de Poze:

— As pessoas de bem podem perceber que a polícia está no caminho certo ao investigar a influência dessas ditas celebridades no crime organizado. Quem vive em favela quer que os filhos se espelhem em professores e trabalhadores, não em influenciadores que enaltecem o crime e ostentam riqueza mantida pelo tráfico.

Al-Qaeda
Segundo a polícia, a principal produtora investigada no esquema de lavagem de dinheiro do CV é a Leleco Nacional, responsável por shows de MC Poze do Rodo. A empresa teria movimentado mais de R$ 50 milhões em menos de um ano, segundo relatórios do Coaf.

— Nessa investigação, Viviane Nogueira recebeu valores do tráfico, especialmente da cúpula do Comando Vermelho. Ela também recebia dinheiro por meio de laranjas — afirmou Jefferson Ferreira, delegado da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE).

Além da esposa do cantor, a investigação apontou que o CV, por meio de uma das produtoras de eventos, realizou um depósito para Mohamed Ahmed Elsayed Ahmed Ibrahim, cidadão egípcio classificado pela polícia como suspeito de atuar como operador de valores para a organização terrorista Al-Qaeda, segundo dados de cooperação internacional. Até 2019, ele estava na lista de procurados do FBI, a polícia federal americana.

Fonte: Extra