A minissérie da Netflix que escancara os perigos da influência digital e da desinformação
A minissérie australiana “Vinagre de Maçã”, lançada pela Netflix, vai muito além de narrar a ascensão e queda de uma influenciadora digital. Ela serve como um alerta contundente sobre os riscos da obsessão contemporânea pelas redes sociais, a influência de personalidades sem responsabilidade e o crescimento de discursos anti-ciência disseminados online. Inspirada na história real de Belle Gibson, que enganou milhões ao afirmar ter curado um câncer terminal por meio de terapias alternativas, a produção expõe como a busca por soluções fáceis e a esperança vendida em embalagens atraentes podem se transformar em armadilhas perigosas para indivíduos vulneráveis.
No centro da narrativa está a figura de Belle, interpretada com intensidade por Kaitlyn Dever. Sua trajetória ilustra como a internet pode transformar qualquer pessoa em especialista da noite para o dia, bastando carisma e domínio das ferramentas digitais. A minissérie mostra que, em um cenário onde curtidas e seguidores se confundem com credibilidade, a responsabilidade sobre o que se compartilha muitas vezes é deixada de lado. Belle constrói um império de seguidores, aplicativos e livros, enquanto propaga informações falsas sobre saúde e promete curas milagrosas sem qualquer respaldo científico.
O grande mérito de “Vinagre de Maçã” está em escancarar a facilidade com que discursos anti-ciência se proliferam nas redes sociais. A série evidencia como algoritmos priorizam conteúdos sensacionalistas e emocionais, criando bolhas de desinformação que colocam em risco a saúde pública. Ao acompanhar personagens que abandonam tratamentos médicos em nome de promessas feitas por influenciadores, a trama revela o impacto devastador que a irresponsabilidade digital pode causar na vida real.
A produção também questiona o papel do público, que muitas vezes consome e compartilha conteúdos sem checar sua veracidade, e do próprio sistema de saúde, que, ao não acolher adequadamente pacientes em sofrimento, acaba empurrando-os para os braços de figuras carismáticas e soluções milagrosas. “Vinagre de Maçã” propõe uma reflexão urgente sobre a necessidade de responsabilidade ética no ambiente digital, tanto por parte de quem produz quanto de quem consome informação.
Ao final, a minissérie se consolida como um retrato inquietante de uma sociedade que, ao buscar respostas fáceis para problemas complexos, se expõe aos perigos da desinformação e do culto a influenciadores sem compromisso com a verdade. “Vinagre de Maçã” não é apenas entretenimento, mas um convite à reflexão sobre os limites da influência digital e a importância de valorizar o conhecimento científico em tempos de fake news.