Advogado investigado por injúria racial contra juíza é encontrado morto em casa
O advogado José Francisco Abud, que estava sob investigação por injúria racial contra a juíza Helenice Rangel, foi encontrado morto em sua residência nesta segunda-feira. Abud ganhou notoriedade nacional após encaminhar uma petição com conteúdo racista à magistrada, titular da 3ª Vara Cível de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense.
O caso de injúria racial
A controvérsia começou quando Abud, insatisfeito com uma decisão judicial desfavorável em um processo de inventário, utilizou termos ofensivos e racistas em uma petição direcionada à juíza Helenice Rangel. No documento, ele se referiu à magistrada como “afrodescendente com resquícios de senzala e recalque ou memória celular dos açoites”, além de fazer menção depreciativa a decisões “proferidas por bonecas admoestadas das filhas das Sinhás das casas de engenho”.
A postura do advogado foi amplamente repudiada por entidades do Judiciário e da advocacia. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) classificou as declarações como “incompatíveis com o respeito exigido nas relações institucionais e evidente violação dos princípios éticos e legais que regem a atividade jurídica”. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) abriu investigação disciplinar e pediu a expulsão de Abud de seus quadros, além da suspensão preventiva de suas atividades profissionais.
Além do processo disciplinar, o caso foi encaminhado ao Ministério Público, que passou a apurar possíveis crimes de racismo, injúria racial e apologia ao nazismo.
Repercussão e histórico de conduta
Segundo relatos da própria juíza e de outras servidoras, Abud já vinha demonstrando comportamento inadequado, enviando e-mails com teor debochado, irônico e desrespeitoso, especialmente contra mulheres do Judiciário. A presidente da Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj), juíza Eunice Haddad, classificou o caso como “inaceitável” e reforçou que “racismo é crime e deve ser combatido por toda a sociedade”.
Morte do advogado
A notícia da morte de José Francisco Abud foi confirmada por fontes próximas à investigação. Detalhes sobre as circunstâncias do falecimento ainda não foram oficialmente divulgados, e as autoridades apuram se há relação entre o episódio de repercussão nacional e o desfecho trágico. Até o momento, não há informações sobre indícios de crime ou suicídio.
Solidariedade e combate ao racismo
O caso gerou ampla comoção e mobilização de entidades do Judiciário e da sociedade civil, que manifestaram solidariedade à juíza Helenice Rangel e reforçaram a necessidade de combate rigoroso a qualquer forma de discriminação no ambiente jurídico. O Tribunal de Justiça do Rio reiterou seu compromisso permanente contra o racismo, destacando que práticas discriminatórias devem ser amplamente repudiadas e combatidas.
A morte de Abud encerra de forma abrupta um dos episódios mais emblemáticos de racismo institucional recente no país, mas reforça a urgência de respostas firmes diante de ataques à dignidade e à diversidade no sistema de Justiça.